PRIMEIRA PARTE DO CURSO DE HOMEOPATIA
DOUTRINA HOMEOPÁTICA
NASCIMENTO DA HOMEOPATIA
Hahnemann, nasceu em Meissen a 10 de
Abril de 1755, tendo-se formado em medicina no ano de 1779, profissão que
exerceu durante vários anos.
Traduziu e publicou diversas obras,
que constituíram uma inestimável contribuição para a literatura médica da
época, destacando-se o seu dicionário farmacêutico.
Considerando inaceitáveis os métodos
e a inoperância da medicina clínica,
abandonou a sua prática em 1789, dedicando-se a traduzir obras médicas
estrangeiras.
Em 1790, quando traduzia a matéria
médica de Cullen, faz a descoberta que o transformou no fundador da homeopatia.
Cullen afirmava que a Cinchona
officinalis – Quina – tinha propriedades tonificantes sobre o
estômago, o que contrariava a experiência de Hahnemann, já que, quando adoeceu
de paludismo havia experimentado – devido à sua ingestão – alguns dos
sintomas característicos da gastrite. Desta forma, passou a auto-ministrar
diariamente certa dose dessa planta – medicamento –, começando a sentir
um quadro sintomático que compreendia: tremores, sede, acessos de febre,
palpitações; enfim, todos os sintomas característicos das febres intermitentes.
Considerando a sua própria experiência, anotou na margem da mencionada obra a
frase: “Substâncias que provocam uma espécie de febre, podem curar a febre”.
Com ela, lançou os alicerces da nova medicina e do seu princípio fundamental:
Os semelhantes são tratados pelos semelhantes.
Desta premissa, partiu para a experimentação
de outras substâncias com resultados terapêuticos confirmados, como o arsénico,
obtendo o mesmo tipo de resposta às questões que levantava. Concluiu então, que
um paciente deve ser tratado com a substância capaz de produzir em qualquer organismo
são, um quadro sintomático idêntico ao por si apresentado.
Deste modo, Hahneman determina
exaustivamente o maior número de sintomas decorrentes da intoxicação provocada
pela administração continuada duma dada substância.
O conjunto de sinais e sintomas
obtido é designado por Patogenesia da Substância.
Após inúmeras experimentações,
publicou em 1810, o “Organon da Ciência Médica Racional”, que a partir de 1819,
data da 2ª edição, recebeu o título de “Organon da Arte de Curar”. Considera-se
este, como sendo o livro basilar de todo o corpo teórico homeopático.
Até ao ano de 1839 publicou a
“Matéria Médica Pura” e o “Tratado de Moléstias Crónicas”.
A homeopatia é utilizada
praticamente em todo o mundo, existindo três escolas dominantes: Unicismo,
Pluralismo e Complexismo. Embora as duas últimas Escolas resultem basicamente
de toda a doutrina unicista – única Escola puramente Hahnemaniana –, a
multitude de teorias aditadas aos conceitos básicos promoveu a sua adaptação
aos princípios da Medicina Ortodoxa. Existe quem conteste esta distorção da
real doutrina homeopática. De outra parte, defende-se a evolução necessária e
inelutável da homeopatia em detrimento da perpetuação do purismo exacerbado, quase
impraticável na actualidade.
Acreditamos, que em certa medida se podem equilibrar os pratos da balança,
empregando os ensinamentos de uma ou outra Escola, em conformidade com a
experiência clínica do terapeuta. De qualquer modo, frisamos que a nossa
abordagem clínica é fundamentalmente Unicista.
Isto não quer dizer, que quer o
pluralismo quer o complexismo, não conduzam a resultados favoráveis e
entusiasmantes. São muitos os práticos que o atestam e pacientes que o
confirmam.
As nossas escolhas, não podem ou
devem em caso algum, manifestar intolerância e compreensão deficiente de
atitudes terapêuticas diversas.
FUNDAMENTO DA HOMEOPATIA
A homeopatia fundamenta-se num
trabalho de natureza científica com cerca de dois séculos, consequência das
investigações efectuadas por inúmeros experimentadores que ingeriram
substâncias em dose não letal e registaram meticulosamente os sintomas
produzidos, e ainda de registos toxicológicos – quadros sintomáticos obtidos
pela ingestão voluntária ou involuntária de substâncias, como o arsénico –
e observação de curas clínicas.
Nascem assim as Matérias Médicas,
que são numa definição simplista, registos de sintomas.
Veja-se a titulo exemplificativo a Matéria Médica Sintética constante da
segunda parte deste livro.
Com o aumento incessante do número
de medicamentos experimentados, face às limitações humanas no concernente à
memória – é praticamente impossível um homeopata dominar cabalmente as
muitas patogenesias descritas –, realizaram-se Repertórios, índices de
sintomas, coligidos das Matérias Médicas ou da mesma forma que estas.
Com mais de 1000 medicamentos
descritos nas Matérias Médicas, estas são forçosamente complementadas pelos
Repertórios, que são índices de sinais e sintomas, organizados em capítulos,
rubricas e sub-rubricas.
A medicina alopática
utiliza antídotos – a diarreia é tratada com um medicamento que produz
obstipação –, enquanto que a homeopatia utiliza uma dose mínima da
substância – de modo a que a sua toxicidade seja eliminada –, que
provoca o mal que se pretende tratar.
A homeopatia enfrenta e assume o
corpo na sua globalidade e os medicamentos têm a função de auxiliar o organismo
na auto-cura, significando isto que se trata o semelhante pelo semelhante – do
Grego “homos”/semelhante e “pathos”/sofrimento –.
São três os grandes princípios da
doutrina homeopática: Similitude, Globalidade e Infinitesimalidade.
PRINCÍPIOS DA HOMEOPATIA
Princípio da Similitude
Foi Hipócrates, no séc. IV a.C.,
quem teorizou a partir da observação, que a cura pode ser provocada quer pela
lei dos semelhantes quer pela dos contrários.
Hahnemann, na sequência da
experimentação de diversas substâncias
e após ter descoberto que a quina, que destrói a febre, a provoca no indivíduo
são, concretizou o princípio normalmente referido como “Similia Similibus
Curantur”, ou seja, os semelhantes são curados pelos semelhantes.
Os sintomas de uma determinada
doença são curados pela substância altamente diluída,
que produz num corpo são, sintomas artificiais semelhantes aos da doença,
quando administrada em dose ponderal.
Toda a substância capaz de provocar determinados sintomas num indivíduo são,
faz com que estes desapareçam num organismo doente.
Não se trata de combater a doença
com a própria doença, mas com algo que se comporta da mesma forma que ela.
O simillimum representa sempre
a esperança de cura do paciente e é o medicamento onde os sintomas totais
apresentados pelo doente encontram correspondência na respectiva patogenesia.
Este, pode denominar-se o simillimum
perfeito.
- António, apresentou-se a uma consulta homeopática queixando-se de
acessos de asma, que começam por volta da
meia-noite e duram normalmente até às três horas da manhã.
Após
interrogatório, manifestou ter um intenso medo da morte, principalmente quando
está sozinho, que é mais evidente durante os acessos de asma e que agrava quase
sempre entre a uma hora e as três horas da manhã. Tem medo de fantasmas,
especialmente à noite, quando apaga a luz para dormir.
O
seu estado psíquico sofre alterações bruscas: um dia está excitado e agitado,
para no outro estar deprimido e melancólico. Estas modificações de humor
surgem, por vezes, no mesmo dia.
Toma
medicamentos que lhe foram receitados pelo seu médico de família, mas está
convicto de que nunca o irão curar.
É
um indivíduo magro, de face marcadamente angulosa e pálida.
Este
é nitidamente um tipo Arsenicum Album,
de similitude perfeita – veja-se na
segunda parte, em sede de Matéria Médica, as características de Arsenicum Album.
Por vezes,
apenas uma parte do quadro sintomático é encontrada na lista de sintomas do remédio
mais adequado disponível na Matéria Médica.
-
Beto tem sensações corporais estranhas. Por vezes sente-se desmaiar, o que faz
com que se levante da cama ou da cadeira onde está sentado para caminhar. Sente
palpitações intensas, que o levam a pensar que está à beira de um ataque
cardíaco, facto que também o faz movimentar atabalhoadamente.
Fica
apreensivo quando tem uma entrevista ou tem de participar em qualquer evento
que o afaste de casa e do seu círculo de acção normal. Em determinadas alturas
tem medo da morte e pensa que vai morrer. Chega mesmo a predizer o dia em que
isso vai acontecer.
Tem
medo de andar sozinho, de sair de casa, de multidões.
Tremores
da língua e das pernas e dores de cabeça terríveis, sempre que trabalha mais
intensamente. Fica aliviado quando a amarra fortemente com um pano.
A
maioria dos sintomas pertence ao quadro de Gelsemium, mas estão presentes outros, nomeadamente, de Argentum Nitricum e Aconitum Napellus.
Segundo Hahnemann, este medicamento
imperfeito ou simillimum possível, deverá ser utilizado na falta de um
mais perfeito,
sem prejuízo de posterior reavaliação do caso clínico.
A experiência demonstra que se a lei
da similitude não for respeitada, os medicamentos homeopáticos são praticamente
ineficazes.
A doutrina Hahnemaniana é, como já
foi aludido, unicista, porquanto é utilizado um único remédio para a obtenção
da cura, contrariamente ao que acontece com o pluralismo
e com o complexismo.
Um terapeuta pluralista, no caso de
Beto, poderia receitar os três medicamentos: Gelsemium, Argentum
Nitricum e Aconitum. Já um complexista, optaria por vários
medicamentos complexos – para a prática do complexismo é de extrema
importância o conhecimento do “Ordinatio Antihomotoxica et Materia Medica”, dos
Laboratórios Heel, Alemanha, existindo uma versão espanhola.
Na perspectiva do unicismo não
existem remédios equivalentes e portanto, não existem substitutos. Por outro
lado, o homeopata não deve misturá-los, deixando à sorte a determinação do
efeito a ser produzido no paciente.
O Repertório Homeopático, utilizado
conjuntamente com a Matéria Médica Homeopática assistirá o homeopata na busca
da substância cuja patogenesia se identifique mais com o quadro sintomático do
paciente.
-
Carlos tem uma pele muito seca e doentia. Estão constantemente a surgir
erupções escamosas, em vários locais do corpo. Tem prurido, que agrava com o
calor do leito.
É
um idealista, cheio de teorias filosóficas, que julga inabaláveis.
Não
gosta de tomar banho e quando o faz os seus padecimentos são agravados.
Tem
diarreia, por volta das 5 horas da manhã, o que o obriga a ir urgentemente à
casa de banho.
Utilizando o Repertório Homeopático
Digital de Ariovaldo Ribeiro Filho, destacamos os seguintes sintomas – este
procedimento só será entendido pelo leitor, quando se consagre ao estudo do
Repertório e da Repertorização »
MENTAL – FILOSOFIA – devaneios
filosóficos, grande inclinação a
MENTAL – LAVAR – aversão a lavar-se
RETO – DIARREIA – manhã – 5 h
PELE – ERUPÇÕES - ESCAMOSAS
PELE – PRURIDO – aquecer-se – cama,
na
PELE – SECA
GENERALIDADES – BANHAR_SE, lavar-se
–agr.
Os 12 primeiros resultados por
cobertura foram:
1 – sulph.; 2 – phos.; 3 – calc.; 4
– rhus-t.; 5 – sep.; 6 – clem.; 7 – psor.; 8 – ant-c.; 9 – mez.; 10 – merc.; 11
– kali-c.; 12 – nat-m.
(Nos Repertórios Homeopáticos os
medicamentos vêm citados por abreviaturas, devidamente identificadas nos
inícios das obras).
Comparando os resultados com a
Matéria Médica, chegamos à conclusão de que o simillimum é Sulfur – estamos
novamente perante uma similitude perfeita. Repertório e Matéria Médica
complementam-se na pesquisa do medicamento curador.
O simillimum tem um poder de
cura quase extraordinário e podemos verificar que o doente lhe é extremamente
sensível. Quanto mais perfeita for a similitude, como consequência da escolha
criteriosa do medicamento, mais susceptível será o doente aos seus poderes
curativos.
Princípio da Globalidade
A Homeopatia encara o ser humano
duma forma global e este é estudado na sua totalidade.
O homem é considerado em todas as
suas vertentes. Ele é o medo, a tristeza, a ansiedade, a excitação sexual, a
ausência de libido, a astenia e a fadiga, as relações laborais, familiares,
sociais, os distúrbios de memória, cognitivos, o sono reparador ou não, a
insónia, os sonhos, sensações, ilusões e delírios, a sede e o apetite, as
febres, dores de cabeça, estômago, as lesões orgânicas, os transtornos
funcionais, os transtornos e traumas recentes e/ou passados. Estes exemplos
ambientam-nos na globalidade do nosso ser e consciencializam-nos para o facto
de ser esta a totalidade que reage às agressões interiores ou externas.
Encará-la como mera acumulação de partes isoladas é uma fuga à realidade com o
intuito de facilitar a actividade terapêutica.
É também em função dela, que é prescrito o simillimum.
Em homeopatia não há doenças,
só há doentes. Por isso, Hahnemann considerava uma verdadeira “heresia”
afirmar que damos determinado remédio nesta ou naquela patologia,
como a Ipeca ou a Drosera para a tosse, a Ignatia para a distonia neurovegetativa
e Lachesis para os distúrbios da
menopausa. O que se cura é o paciente com tosse, com distonia neurovegetativa e
com distúrbios menopáusicos e não a designação da doença. Praticar a homeopatia
nesta última formulação é confundi-la por identificação de métodos, com a
medicina alopática.
Considerando o homem no seu centro,
digamos impropriamente, na sua essência, nos chamados sintomas da imaginação,
biopatográficos ou etiológicos,
mentais
e gerais,
pode ocorrer que o medicamento escolhido, não tenha presente na sua patogenesia
os sintomas locais.
Caso isto suceda, não constitui um óbice à aplicação do medicamento, visto que
o remédio que cura o doente faculta o desaparecimento dos sinais e sintomas
particulares.
O organismo funcionando como um todo,
pela acção do simillimum,
restabelece o seu próprio equilíbrio, caminhando pela vereda da saúde.
Princípio da Infinitesimalidade
A infinitesimalidade é um corolário
directo e imediato da similitude.
Os medicamentos homeopáticos são
essencialmente utilizados em doses de altas diluições, por duas razões
fundamentais:
- As
substâncias utilizadas em dose ponderal, podem nalguns casos apresentar um grau
de toxicidade capaz de maior ou menor agressão ao organismo do paciente, pelo
que, submetendo-as a diluições sucessivas anulamos os efeitos indesejáveis,
enquanto a acção terapêutica se mantém;
- Quanto
maior a diluição mais profundo e duradouro é o efeito do medicamento, e isto,
desde que correctamente prescrito.
Hahnemann, para além de submeter as
substâncias medicamentosas a sucessivas diluições, dinamizou-as por intermédio
de uma agitação vigorosa e rítmica.
As principais doses altamente
diluídas – hahnemanianas –, são as decimais e as centesimais.
Para a realização das sucessivas
dinamizações, o prático ou o farmacêutico deve dispor de frascos novos,
previamente lavados com água e secos posteriormente.
Tratando-se de tintura mãe ou
substância líquida, coloca-se no primeiro frasco uma parte em peso daquela,
completando-a com 99 partes de um veículo apropriado – água bidestilada e
álcool a 38 ou 40º -, agitando-se vigorosamente cem vezes. Esta diluição,
seguida de dinamização, constitui a primeira centesimal (1ª CH).
Desta 1ª centesimal, deita-se 1 ml
num outro frasco com 99 ml de excipiente. Agita-se igualmente 100 vezes e
obtém-se a 2ª centesimal (2ª CH).
Este processo repete-se
sucessivamente quantas vezes forem necessárias para produzir a potência
desejada.
As decimais são obtidas pelo mesmo
processo só que numa relação de 1/10.
No que às triturações respeita, a
substância sólida é previamente reduzida a pó e triturada num almofariz,
juntando-se-lhe lactose. A proporção das substâncias é calculada para que se
obtenha uma 1ª centesimal ou decimal. A trituração é executada pelo menos
durante vinte minutos. Para obter a 2ª centesimal ou decimal, junta-se uma
parte do triturado com 99 ou 9 partes de lactose e procede-se a nova
trituração. O mesmo, para a obtenção da 3ª centesimal.
De seguida, passa-se ao meio
líquido, procedendo-se como atrás se mencionou, já que todos os produtos são
solúveis a partir da 4ª centesimal.
O remédio homeopático é o resultado
de um produto inicial submetido a diluições sucessivas, acompanhadas
simultaneamente de agitação e ritmo.
Ocorre que, pelo menos teoricamente,
entre a 9ª e a 12ª diluição centesimal hahnemaniana
se ultrapassa o número de Avogrado, ou seja, o medicamento deixa de possuir
quaisquer moléculas da substância original. Assim sendo, alguma da comunidade
científica não mostra quaisquer reservas na qualificação do medicamento
homeopático como se de um verdadeiro placebo se trate, contrariando a
experiência centenária de inúmeras gerações de práticos homeopatas.
Podemos dizer que até à 12ª CH
coexistem as acções farmacológicas “molecular” e “energética”. A partir da 12ª
CH, resta apenas a energética. Quanto mais dinamizamos um medicamento mais
aumentamos a acção farmacológica energética. Quanto mais diluímos mais
diminuímos a acção farmacológica molecular.
Madeleine Bastide e Frederic
Boudard, procuraram demonstrar num trabalho denominado “Investigação Científica
em Homeopatia”,
que esta é uma verdadeira ciência face à eficácia real das doses
infinitesimais, mesmo quando já não contêm moléculas da substância inicial. Os
estudos tendentes a demonstrar que o medicamento homeopático não é um placebo,
têm vindo a multiplicar-se com conclusões absolutamente favoráveis.
Não é por se desconhecerem os reais
mecanismos pelos quais é veiculada a informação contida nos remédios
homeopáticos, que vamos negar a sua eficácia.
O conhecido é uma pequena embarcação no oceano do desconhecido e nenhuma
mentira, sujeita a constante comprovação, pode sobreviver 200 anos, muito
especialmente numa época em que tudo é posto em crise.
DOENÇA
A saúde configura-se como um estado
de harmonia entre a mente e o corpo, estado esse que pressupõe o equilíbrio,
quer das funções cerebrais, quer dos diversos órgãos.
A doença na concepção de Hahnemann,
é algo invisível. É um distúrbio da força vital
invisível.
A doença que não tem necessidade de
intervenção cirúrgica ou é aguda, crónica, por abuso de medicamentos ou por
deficientes condições de vida.
Muito antes da conceptualização da
Medicina Psicossomática, aquele afirma que existem doenças psíquicas geradas
por doenças físicas
e moléstias orgânicas condicionadas pela persistência de ansiedades,
aborrecimentos, irritações, injustiças, medos, mágoas e traumas, que em pouco
tempo podem destruir a saúde física.
As doenças do homem físico, são as
do homem psíquico. Quanto mais forem as queixas físicas, mais doente estará o
indivíduo. Se predominarem as queixas psíquicas, a terapêutica homeopática será
extraordinariamente eficaz impedindo que o paciente seja acometido
ulteriormente por padecimentos orgânicos.
Na doença aguda, decorrendo da sua
actualidade, os principais sintomas são facilmente individualizáveis,
exigindo-se um pequeno esforço do homeopata e do paciente para se delinear o
quadro clínico.
Seleccionado e ministrado o correcto
medicamento homeopático, a doença declinará imperceptivelmente, levando algumas
horas se é de recente instalação ou mais tempo se for de longa duração,
constatando-se primariamente a melhoria do estado mental.
Coabitação de doenças
Não deixa de ser frequente, que duas
ou mais doenças coexistam no mesmo organismo simultaneamente. Caso tal facto
suceda, a força relativa das enfermidades é que determina qual prevalecerá.
Na presença de duas doenças
distintas no mesmo organismo e sendo a mais antiga de força superior à que foi
contraída recentemente, observar-se-á que a mais actual será repelida pela
original.
Caso a doença recentemente instalada tenha uma força superior à doença que já
residia no organismo, ocorrerá que a mais antiga permanecerá estacionária até
que a neoformada complete o seu curso natural.
Resulta deste conceito que a Dinamis
não consegue curar uma doença com a instalação de uma outra diferente,
mesmo de força superior. Somente nas circunstâncias em que ambas as doenças se
assemelham na sua sintomatologia é que se experimenta a aniquilação mútua das
enfermidades.
Dificilmente uma doença aguda
constituirá um quadro complexo com uma crónica. Aquela excluirá esta,
temporariamente.
Iatrogenia
No seio das doenças crónicas surge
um grupo de enfermidades que tem aumentado no decorrer das décadas e que,
infelizmente, se assumem como as mais graves e incuráveis das doenças de longa
duração. Referimo-nos às doenças iatrogénicas, ou seja, aquelas que são
produzidas por acções médico-terapêuticas inadequadas.
Hahneman afirma ser praticamente impossível
proceder à cura de tais enfermidades, após estas terem ultrapassado certa fase
do seu quadro evolutivo.
Mais à frente teremos em conta as
denominadas barreiras ou obstáculos produzidos por medicamentos alopáticos ao
pleno efeito dos medicamentos homeopáticos.
MIASMA
HAHNEMANIANO, DIÁTESE
OU DOENÇA HAHNEMANIANA CRÓNICA
Diátese é o conceito actual que além
de englobar a doença crónica resultante de acção miasmática a que se refere
Hahnemann, enquadra o conceito de modo reaccional patológico. Traduz-se assim,
numa modalidade reaccional patológica específica dum indivíduo face a uma
agressão patogénica indiferenciada. Crê-se actualmente que o conceito de miasma
Hahnemaniano se encontra ultrapassado
devido ao facto de este não englobar uma série de factores etiológicos de
carácter endógeno, nomeadamente a hereditariedade e a adaptação dos genes
humanos. Erradamente, esta perspectiva actual resulta de interpretações
restritivas da obra de Hahneman.
Deve referir-se, que a remoção da
superfície do organismo das manifestações de uma doença miasmática interna,
deixando o miasma por curar, é a forma mais usual e prolífica de produzir
doenças crónicas.
A doença crónica progride do
exterior para o interior, do baixo para o alto e os sintomas desaparecem na
ordem inversa do seu aparecimento.
Hahnemann, constatou que alguns
doentes tratados convenientemente com o remédio simillimum:
- tinham
apenas leves melhorias;
- tinham
recaídas;
- eram
acossados por novas patologias.
Daqui deduziu que subjacente à
patologia aguda teria que existir uma crónica, que englobou em categorias
diatésicas, verdadeiras disposições latentes, de causa hereditária ou
adquirida, condicionantes do modo de reagir de um organismo, predispondo-o a
contrair um certo número de doenças.
Assim, os doentes cujas patologias
não respondessem satisfatoriamente ao simillimum, deveriam ser
enquadrados naquelas categorias para efeitos de tratamento.
Atente-se que a noção de doença
crónica, não foi unanimemente aceite. Homeopatas como Kent e Hering, não lhe
atribuíram grande importância, desenvolvendo todos os seus esforços na
tentativa de descoberta do simillimum aplicável às situações patológicas
imediatas do paciente em observação.
Gibson Miller, aluno de Kent,
sustentou a necessidade de serem administrados sucessivamente diversos
remédios, com o fim das doenças crónicas atingirem a cura.
Se no decurso de uma doença crónica
surgir uma doença aguda banal, deve ser prescrito o remédio mais indicado, mas
em baixa dinamização, de forma a não interferir ou interferir o menos possível
com a acção prioritária do remédio de fundo.
Hahnemannn individualizou três
categorias:
Pelos trabalhos de Nebel
e Vannier,
incluem-se outras duas:
Existindo um número considerável de
remédios diatésicos,
o terapeuta terá de procurar nas suas patogenesias os sintomas do quadro
patológico apresentado pelo doente e obtido com recursos que não se limitam aos
sinais recentes.
É aqui de vital importância a
anamnese e o simillimum terá de estender a sua acção, quer aos sintomas
imediatos quer aos mediatos.
Numa doença crónica, a totalidade dos sintomas, compreende os existentes desde
o nascimento, excluindo os que se apresentem como estruturadores de um quadro
agudo.
Em regra, o simillimum terá
propriedades de cura quer no agudo, quer no crónico, mas quando tal não
aconteça, terão de se receitar sucessivamente vários medicamentos,
em consonância com a reavaliação constante do paciente e da patologia.
É importante frisar que todos nós
somos polidiatésicos
e as diáteses devem ser tratadas na ordem cronológica inversa ao seu
aparecimento: primeiro a mais recente, depois a(s) mais antiga(s).
Se constatarmos uma determinada
diátese actual, a sua cura fará com que surjam os sinais da diátese ou diáteses
mais antigas, que serão tratadas em ordem sucessiva com o respectivo simillimum,
até ao desaparecimento integral de todos os sintomas.
Cada paciente individualmente
considerado, exibe apenas uma parte total dos sintomas que constituem a
extensão total da diátese,
extensão esta que foi obtida pela observação de muitos pacientes acometidos
dessa “doença crónica”.
No domínio das diáteses, para além
dos medicamentos de referência – ver nota nº59 –, crê-se que exerçam um
papel fundamental os nosodos,
policrestos de acção quer geral, quer local – Psorinum, Medorrhinum,
Luesinum, Tuberculinum e Carcinosinum –.
No contexto da nota 59, referimos o
medicamento constitucional de cada uma das diáteses:
Psora –
Calcarea Carbonica;
Sicose –
Calcarea Carbonica;
Lues - Calcarea Fluorica;
Tuberculinismo –
Calcarea Phosphorica.
As constituições
carbónica, fosfórica e fluórica, que são uma constante dos indivíduos, foram
estudadas por Nebel
e são determinadas pela observação do esqueleto e da forma do corpo.
O carbónico apresenta formas
arredondadas e o antebraço apresenta na posição de repouso, relativamente ao
braço, um ângulo inferior a 180º.
O fosfórico é um longílineo, grande
e magro. O antebraço está exactamente no prolongamento do braço.
O fluórico é um longílineo ou
brevílineo, com o rosto e o corpo dissimétricos, decorrentes de deformações
esqueléticas. Os dentes estão mal implantados. O antebraço apresenta
relativamente ao braço, um ângulo superior a 180º.
Expomos a seguir, ainda que
sumariamente, os principais sinais e sintomas das várias diáteses, de forma a
que o homeopata possa expeditamente subsumir-lhes o quadro clínico apresentado
pelo doente sujeito a observação.
PSORA
A psora resulta na sua base
conceptual Hahnemaniana, das sarnas cutâneas. Estas abundavam na época e
encontravam-se mal definidas clinicamente. Deste modo, a psora não resulta
exclusivamente da sarna mas também de toda uma série de enfermidades
dermatológicas – eczemas, dermatoses, dermatites, micoses, etc. –.
Este grande miasma, comporta assim
uma componente cutânea, seja ela adquirida ou congénita.
Etiologicamente, a psora pode ser
fruto dos seguintes factores:
- Afecções
dermatológicas suprimidas – não é infrequente que uma patologia crónica deste
foro, seja aparentemente curada por aplicações tópicas ou sistémicas alopáticas
e que resulte posteriormente em manifestações psóricas. Qualquer
patologia dermatológica de marcada extensão, constituirá potencialmente uma fonte
de psora.
- Os
neo-alérgenos e a sua proliferação.
- As
sobrecargas alimentares – incluindo os consumos exacerbados de açúcares e
gorduras animais.
- A
hereditariedade.
No que respeita ao quadro
sintomático e de sinais clínicos psóricos:
- Dermatologicamente
apresentam-se manifestações mais ou menos intensas do miasma psórico. O simples
prurido é um sintoma da psora.
- Sintomatologia
respiratória, crónica, alternada e com periodicidade.
- Termoregulação
alterada.
- A
presença de sintomatologia pertencente ao aparelho digestivo. Obstipação,
funcionamento intestinal comprometido, desejo de açúcares e alterações do
apetite.
- Todas as
secrecções e excrecções apresentam um odor forte e desagradável.
- Problemas
das faneras, especialmente das unhas.
- Problemas
ginecológicos – prurido vulvar, leucorreias nauseabundas e irritantes, SPDM.
- Propensão
a parasitoses.
- Astenia
e tristeza exacerbadas.
Reaccionalmente o psórico
caracteriza-se por:
- Inflamações
cutâneas.
- Metástases
mórbidas.
- Esgotamento
reaccional.
Modalidades:
- Agrava
pelo frio ou pelo calor.
- Agravamento
com o tipo de Lua – cheia, nova, quarto minguante –.
SICOSE
A sicose resulta da evolução crónica
de uma gonorreia. O conceito de sicose além de se enquadrar no quadro
patológico da blenorragia, ultrapassava os seus limites e englobava qualquer
tipo de tumoração benigna.
No plano etiológico o sicótico sofre
por:
- D.S.T (Doenças
Sexualmente Transmissíveis).
- Polivacinações.
- Terapêuticas
imunossupressoras.
- Hereditariedade.
Os principais sinais e sintomas
clínicos são:
- Corrimentos
genitais.
- Diarreias
de cor esverdeada.
- Sudação
exacerbada.
- Exsudação
rinofaríngea e do aparelho respiratório.
- Neoformações
cutâneas.
- Tumoração
volumosa, lenta, regular e benigna.
- Aumento
de peso.
- Ruminação
de pensamentos, angústia e mau humor.
- Quadros
fóbicos, v.g. o receio de neoplasias.
- Ideias
fixas e sensações corporais bizarras.
- Agravamento
das enfermidades pela humidade, especialmente pelo frio húmido.
- Dores
articulares.
- Ingestão
exagerada de chás.
Reaccionalmente o miasma sicótico
evolui:
- Inflamação.
- Exsudação.
- Neoformação.
Modalidades
- Agrava
mediante todas as formas de humidade.
- Má
reacção à vacinação.
- Agrava
por certos alimentos – chá, café, cebola –.
- Melhora
com a secura e o calor.
- Melhora
com eliminações líquidas.
LUETISMO OU MIASMA SIFILÍTICO
Hahneman descreveu-a originalmente
como sífilis visto resultar etiologicamente de uma infecção pelo Treponema
Pallidum. A Lues – como é conhecida actualmente – reflecte a evolução de uma doença pelo
chamado “cancro duro”.
Na etiologia da Lues encontramos:
- A
sífilis.
- O
alcoolismo.
- Tabagismo
intenso.
- Patologias
amigdalofaríngeas por estreptococo beta-hemolítico do grupo A.
- Os
chamados “Grandes Dramas” – guerra, fome, miséria.
Patologicamente a Lues cobre:
- Os rins.
- A boca e
a garganta.
- Ossos e
articulações.
- As
escleroses neurológicas.
- O
aparelho cardiovascular.
Sinais e sintomas da Lues:
- Instabilidade
de carácter com distúrbios da actividade e agitação.
- Condutas
obsessivas.
- Insónias.
- Exacerbação
das secrecções que atinge os diversos aparelhos.
- Algias
ósseas insustentáveis.
- Ulcerações
associadas aos diferentes aparelhos.
- Progressão
regular da hipertensão arterial severa.
- Varizes
e úlceras varicosas.
- Amigdalites,
anginas recidivantes e repetidas, parodontoses.
- Dissimetrias
morfológicas evidentes.
Modo reaccional:
- Inflamação.
- Ulceração.
- Esclerose.
Modalidades:
- Agravamento
geral de todas as patologias à noite.
- Melhoria
geral na montanha.
TUBERCULINISMO
Esta é uma diátese actual,
identificada por Nebel e Léon Vannier. É fruto da tuberculose e os seus órgãos
alvos são os respeitantes ao aparelho respiratório.
Etiologia tuberculínica:
- Tuberculose.
- Infecções
pulmonares severas.
- Aumento
de pneumoalérgenos actuais.
- Colibaciloses
urinárias recidivantes.
- Vacinas
tuberculinizantes em tipos sensíveis.
Fisiopatologicamente a diátese
tuberculínica cobre:
- Os
aparelhos cardiovascular, genitourinário, respiratório, gastrointestinal.
- Afecções
renais.
- Problemas
osteoarticulares.
- Enfermidades
dermatológicas.
- Disfunções
hepáticas.
Principais sinais e sintomas da
diátese tuberculínica:
- Sensibilidade
reactiva aumentada a todas as agressões do aparelho respiratório.
- Insuficiência
respiratória.
- Desmineralização
global – dores dorsais frequentes, magreza apesar do apetite voraz,
esgotamento físico e intelectual rápidos, agitação permanente.
- Variação
extrema de todos os sintomas, sejam físicos ou mentais.
- Cefaleias
frequentes.
- Apetite
intenso.
- Disfunções
cardíacas – hipotensão, taquicardias, precordialgias –.
- Diarreias
fáceis.
- Hipersexualidade.
- Fluxo
menstrual abundante.
- Algias
articulares.
- Congestão
venosa periférica.
- Sudação
profusa.
- Cistalgias
e cistites frequentes no sexo feminino.
- Tosse
fraca e frequente.
- Tendência
hemorrágica.
- Ataques
febris inesperados.
Evolução reaccional:
- Inflamação
pulmonar.
- Esclerose
pulmonar.
- Esgotamento
rápido.
CANCERINISMO
Esta diátese é fruto de estudos
recentes e caracteriza-se como um modo reaccional que pende sobre o risco da
oncogénese.
Os factores etiológicos que assistem
ao cancerinismo são:
- A
hereditariedade.
- A
iatrogenia.
- Os
vírus.
- A
poluição atmosférica.
- O desregramento
alimentar e os carcinógenos químicos presentes na alimentação.
- O stress
emocional.
Como principais sinais e sintomas
clínicos desta diátese temos:
- Propensão
à formação de nódulos inflamatórios – próstata, gânglios, útero, cólon,
seios.
- Dores
que queimam, lancinantes, repetitivas localizadas nos processos inflamatórios.
- Falência
da energia vital – fadiga e tristeza profundas, emagrecimento lento, frio
excessivo.
- Alterações
do aparelho digestivo – ardor e sensação de queimadura na boca, ardor no
estômago, dores que queimam e câimbras abdominais, hemorróidas permanentes.
- Afecções
pulmonares, renais e geniturinárias.
- Alterações
de monta na pele.
Modo reaccional:
- Inflamação.
- Multiplicação.
- Disseminação.
Modalidades:
- Agrava
pelo frio, pelas alimentações excessivamente ricas e por um esforço mental
excessivo e constante.
- Melhora
com um clima ameno e temperado, alimentação desintoxicante e pelo repouso.
Expostas as diáteses homeopáticas,
fazemos um reparo a respeito da sua utilização na prática homepática.
Efectivamente, a sua importância
clínica não deve ser descurada de modo algum, mas o modo como se efectua a
terapêutica nalguns casos conhecidos deixa muito a desejar. A prescrição de
nosodos ou de qualquer remédio diatésico deve ser sempre precedida por um
estudo profundo, que tome em linha de conta as leis da similitude.
SINTOMAS
Os sintomas expressam as tentativas
do organismo em se curar a si próprio.
Em homeopatia há que distinguir os
inerentes à própria doença, dos sinais ou condições que pertencem
caracteristicamente ao doente enquanto indivíduo.
Pode acontecer, que um determinado
medicamento cubra todos os sintomas da doença
e não seja o escolhido como simillimum, perante a falta de
correspondência com as condições gerais do paciente.
Como já se mencionou, em homeopatia
não existem doenças, só doentes. Não é o reumatismo, a depressão, a ansiedade,
a artrite ou a enxaqueca que são curados, embora se vise a supressão da
sintomatologia associada à patologia de que se padece. Cura-se sim, o paciente
que sofre de artrite, reumatismo ou enxaqueca.
Nesta perspectiva, os sintomas característicos do paciente
são mais importantes que os sintomas e sinais da doença.
O que caracteriza no essencial um
indivíduo são as suas características mentais, aversões e desejos, comportamento e reacção aos elementos
naturais.
Hahnemann, percebeu que os sintomas
importantes são os característicos, peculiares, raros, raríssimos, repetitivos
e inexplicáveis. Incluem-se ainda os sintomas mentais – que também podem ser
categorizados mediante as premissas acima referenciadas –, que deverão ser
sempre utilizados para a selecção final do medicamento.
Os sintomas que nos devem guiar na
escolha criteriosa do simillimum, são os individualizantes do doente,
que devem ter correspondência na patogenesia do medicamento.
- Os
sintomas característicos, individualizam ou caracterizam o paciente no âmbito
da totalidade sintomática, estando geralmente associados a modalidades de
melhoria ou agravamento.
- Os
peculiares são sintomas característicos, específicos de alguns medicamentos –
ex.: o medo da morte com agitação entre a uma e as três horas de Arsenicum
Album, de apoplexia ao anoitecer de Pulsatilla – ou do próprio doente e do
seu caso clínico – ex.: febre alta sem sede, calafrio com sede de água fria.
- Os
raros, como o próprio nome indica, só muito raramente se verificam e no
repertório são constituídos por rubricas com um número igual ou inferior a três
medicamentos – medo de passar por esquinas: Argentum Nitricum e
Kali-Bromatum.
- Os
raríssimos, também denominados Keynotes, encontram-se em rubricas com apenas um
medicamento
– a sensação como se o corpo fosse frágil, de vidro, de Thuya.
São estes os sintomas que o
homeopata deve investigar escrupulosamente no paciente
e que quando presentes, são determinantes para a escolha do medicamento, claro
está, com sujeição prévia a uma hierarquização.
A prescrição sobre a totalidade dos
sintomas, não corresponde à prescrição sobre todos os sintomas. É essencial
isolar o maior número possível de individualizantes, que nos conduzam ao simillimum.
Pode dizer-se em síntese, que os
sintomas característicos, peculiares, raros e estranhos ou absurdos, são os que
definem o paciente e os que em regra mais atraem a nossa atenção, podendo
conduzir ao esclarecimento por via diferencial, do resultado obtido por via do
estabelecimento da Síndrome Mínima de Valor Máximo.
Alguns autores, nomeadamente Séror,
consideram um bom sintoma ou sinal o que pode ser encontrado num organismo
vivo, mas não num cadáver: uma úlcera ou fractura é visível num ser desprovido
de vida, mas o medo da morte ou da multidão, não. Os primeiros são de
importância secundária, enquanto que os segundos assinalam a manifestação da
vida através da matéria. Por outro lado, um sintoma explicável é um mau
sintoma: uma criança que tem aversão a doces porquanto produtores de enormes
dores dentárias. Um sintoma inexplicável, como desfazer-se em lágrimas sem
saber porquê, é manifestamente um bom sintoma. Na mesma hierarquia devemos
colocar os inconscientes, v.g., as múltiplas manifestações do sono.
Os
sintomas mais comuns e indefinidos, tais como tristeza, ansiedade, medo, perda
de apetite, sono agitado, desconforto, cefaleias, não merecem em especial a
nossa atenção, porque são observados em quase todas as doenças e elencam o
quadro sintomático de grande número de medicamentos.
Os
sintomas gerais, que respeitam ao corpo na sua integralidade, têm um valor
superior aos locais. Um só sintoma geral, bem marcante, é mais importante que o
conjunto de locais ou particulares.
Quando o
doente fala na primeira pessoa do singular, podemos estar quase certos que se
refere a um sintoma geral: eu tenho frio; eu tenho sede.
Por outro
lado, a importância dos sintomas mentais não pode ser descurada. Os mais
importantes são os que manifestam a vontade e a afectividade do paciente.
Depois, vêm os relativos à inteligência, seguidos pelos atinentes à memória.
Há sempre
que reconhecer quais os sintomas comuns à doença e os que são característicos
do doente, estes sim de vital importância.
Interrogatório e Exame
Há que identificar a totalidade dos
sintomas do paciente de forma a conseguir a sua remoção, o que equivale à
destruição integral da causa da doença.
Esta identificação consegue-se por
intermédio do seu “exame”.
Segundo Hahnemann:
- O
paciente fornece uma história detalhada dos seus padecimentos.
O homeopata anota tudo, iniciando um novo parágrafo a cada sintoma relatado,
evitando interrompê-lo (§ 84 e § 85 do Organon).
- Atende
então a cada sintoma em particular obtendo informações mais precisas,
sem que formule questões de forma sugestiva ou que possam ser respondidas com
um simples sim ou não (§ 86 e § 87 do Organon).
- Se nos
padecimentos voluntariamente mencionados, houver lacunas sobre várias partes,
funções do organismo e estado mental,
o homeopata deve questionar o paciente no que a tal respeitar (§ 88 do
Organon).
- Deverá
também anotar tudo o que observar no doente (§ 90 do Organon).
- No caso
de doença crónica,
há que reconhecê-la na sua forma original, devendo para tanto o doente ser
privado por alguns dias dos medicamentos que toma, procedendo-se à anotação
cuidada das mais pequenas peculiaridades ou sintomas mínimos (§ 91 e § 95 do
Organon).
- Nas
doenças agudas, não obstante o homeopata tenha de inquirir menos, porquanto os
sintomas estão bem presentes na memória do enfermo, deverá ser feito um quadro
completo da doença (§ 99 do Organon).
O nosso modelo de interrogatório foi
idealizado visando uma repertorização breve e o mais exacta possível.
Durante o interrogatório devem ser
sempre tomadas em consideração:
As modalidades que provocam, agravam
ou melhoram os sintomas, alternâncias ou concomitâncias sintomáticas, todos os
factores subjectivos e sensações associadas à doença ou ao próprio paciente
como entidade global, a lateralidade, horários de agravamento e melhora e os
factores etiológicos que geraram a morbicidade do quadro.
A anamnese compreende um período
prévio em que o paciente mencionará a sua queixa principal e relatará mesmo que
parcialmente, a história pregressa da doença.
A todo o momento, o homeopata deve
atentar nas características peculiares e únicas do seu paciente. Desde o
momento em que entra no consultório até à sua partida, o homeopata tem
obrigação de constatar todo e qualquer sinal pertinente para a procura do
medicamento correcto.
No que respeita às fases da anamnese
numa consulta de homeopatia:
Queixa
principal ou relato da história individual.
O paciente
deve apresentar uma história o mais detalhada possível da doença.
Se
possível, deverá referir os factores etiológicos ou biopatográficos.
Procederá
à descrição do quadro sintomático.
Compreende uma série de passos que o
homeopata poderá seguir ou não, dependendo da sua experiência clínica ou até
mesmo da sua predilecção por um outro modelo de questionário. Não é forçoso que
o bom interrogatório seja tal qual aquele que demonstramos. Pelo contrário,
este modelo de interrogatório é meramente indicativo de como se poderá
processar o questionário aplicado à clínica homeopática.
O questionário que apresentamos
depende directamente da estrutura do Repertório Homeopático de Ariovaldo
Ribeiro Filho, que tem por base o de
Kent.
Dados pessoais
Aqui, incluem-se todos os dados
pessoais do paciente tais como: nome, idade, profissão, agregado familiar, etc.
Fase interrogatória.
Sobre a
mente e as ilusões.
Sobre o
sono e os sonhos.
Cabeça e
pescoço.
Olhos e
visão.
Ouvidos e
audição.
Nariz.
Face.
Boca,
paladar e dentes.
Apetite,
bebidas e alimentícios.
Garganta,
garganta externa.
Laringe e
traqueia.
Tórax,
peito.
Aparelho
respiratório, respiração.
Tosse.
Expectoração.
Costas.
Aparelho
cardiovascular.
Reto.
Rins e
bexiga.
Excreções
(urina e fezes).
Genitais.
Pele.
Aparelho
locomotor.
Sistema
nervoso.
Transpiração.
Dor.
Interrogatório
sobre os antecedentes do paciente.
Antecedentes
ginecológicos.
Inspecção
ou exame.
Reavaliação
e consolidação, a posteriori, por intermédio do exame, dos dados obtidos
na fase de interrogatório.
O REPERTÓRIO HOMEOPÁTICO
Hahnemann entendeu desde os
primórdios da sua prática clínica e científica, face ao desenvolvimento e
alargamento da matéria médica homeopática, consubstanciada no aumento das
substâncias experimentadas, a necessidade de criação de repertórios que se
constituíram como índices de sintomas coligidos a partir de registos toxicológicos
– v.g. a intoxicação voluntária ou involuntária pelo arsénico –,
experimentações em voluntários aparentemente saudáveis – que começaram por
ser os próprios homeopatas
- e curas comprovadas pela prática clínica.
Estes repertórios, prosseguem a
descoberta do simillimum e
espelham a impossibilidade do ser humano, atentas as suas limitações, de
memorizar todos ou a maior parte dos sintomas das ditas Matérias Médicas.
De Hahnemann a Kent, foram publicados inúmeros repertórios destacando-se
os de Boenninghausen - “The Repertory of Antipsorics” (1832);
“Repertory of the Medicines wich are not Antipsorics” (1835); “Therapeutic
Pocket Book” (1845) –, de Jahr – “New Manual of Homeopathic Practice”
(1841) –, de Lippe – “Repertory of the more characteristics Symptoms of
the Materia Medica” (1880) –, de Hering – “Analitical Repertory” (1881)
– e Gentry – “The Concordance Repertory of the Materia Medica” (1890).
Em 1887, Kent fazia publicar o “Repertory
of the Materia Medica” com 540 medicamentos citados, podendo dizer-se, sem
exagero, que está na origem de todos os repertórios actualmente utilizados.
Os capítulos desta obra, formam 37
secções – v.g. 1 - Mente; 2 - Vertigem; 3 - Cabeça; (...); 32 - Sono; (...); 37
- Generalidades – e alguns são subdivididos anatomicamente - v.g. Cabeça:
Fronte; Lados; Occipital; Têmporas e Vértice.
Os medicamentos surgem pontuados de
1 a 3, isto de acordo com a sua eficácia e confirmação na génese patogénica.
As referências cruzadas presentes na
obra, destinam-se a prevenir interpretações erróneas dos sinais patológicos
expressos pelo paciente, isto, ao remeterem para rubricas sinónimas as
expressões ou palavras que este emprega.
Além destes, não podemos deixar de
nos referir ao “Clinical Repertory” de John H. Clarke (1853-1931), autor de uma
Matéria Médica que demorou dezasseis anos a concluir e que se apresenta como
uma das mais importantes para o estudo e prática da Homeopatia.
Após longos anos de intenso
trabalho, Ariovaldo Ribeiro Filho,
publicou em 1996 o “Novo Repertório de Sintomas Homeopáticos”, estruturado nos
princípios do de Kent.
Esta obra, com 1201 páginas e 1611
medicamentos citados, é composta por 42 capítulos:
Mental.
Ilusões.
Vertigem.
Cabeça.
Olhos.
Visão.
Ouvido.
Audição.
Nariz e
Olfacto.
Face.
Boca.
Paladar.
Dentes.
Garganta.
Garganta
externa.
Estômago.
Bebidas e
Alimentícios.
Abdómen.
Recto.
Fezes.
Bexiga.
Rins.
Próstata.
Uretra.
Urina.
Genitais
Masculinos.
Genitais
Femininos.
Laringe e
Traqueia.
Respiração.
Tosse.
Expectoração.
Peito.
Costas.
Extremidades.
Unhas.
Sono.
Sonhos.
Calafrio.
Febre.
Transpiração.
Pele.
Generalidades.
Aos 37 capítulos do Repertório de
Kent, Ariovaldo fez acrescer cinco – Ilusões; Paladar; Bebidas e
Alimentícios; Sonhos e Unhas –, originários, respectivamente, dos
capítulos: Mental, Boca, Estômago e Generalidades, Sono e Extremidades.
Os capítulos estão divididos em
rubricas – letra maiúscula em negrito – e estas: na primeira sub-rubrica,
segunda sub-rubrica, terceira sub-rubrica, quarta sub-rubrica, quinta sub-rubrica,
sexta sub-rubrica (sem sinal).
Os períodos do dia têm a seguinte
significação horária:
Manhã – 5 às 9h.
Antes do Meio-Dia – 9 às 12h.
Tarde – 13 às 18h.
Anoitecer – 18 às 21h.
Noite - 21 às 5h.
Estão descritas inúmeras referências
cruzadas (Ver... ou ÄVer...), cuja função é a de auxiliar
o homeopata na escolha do sintoma e do medicamento correcto, face à afinidade,
sinonímia ou analogia de algumas expressões comumente utilizadas.
As abreviaturas mais usadas são:
agr. –
agravação.
melh. –
melhora.
av. –
aversão.
des. –
desejo.
Os medicamentos citados foram
divididos em três graus diferentes:
- Grau I –
em negrito com valor de três pontos. Sintoma registado pela maioria ou
por todos os experimentadores, confirmado em diferentes grupos de experimentação
e cuja eficácia foi comprovada na cura de casos clínicos.
- Grau II
– em itálico com valor de dois pontos. Sintoma registado por uma parte
dos experimentadores e comprovado na clínica.
- Grau III
– em estilo romano com valor de um ponto. Sintoma apresentado por um ou
muito poucos experimentadores.
REPERTORIZAÇÃO
A repertorização é o modo pelo qual
o homeopata, transformando a linguagem do paciente no que aos sintomas do caso
respeita, em linguagem repertorial, obtém um maior ou menor número de
medicamentos ordenados por cobertura ou pontuação.
A repertorização é meramente
sugestiva. Ela indica-nos um conjunto de substâncias que se podem assumir
potencialmente como semelhantes do caso. Mas a decisão caberá sempre em última
instância, à comparação por diferencial, da totalidade sintomática com as
patogenesias descritas nas Matérias Médicas.
É fundamental entender-se que a
prescrição só será correcta e coroada de sucesso se o homeopata estiver
habilitado a destrinçar os sentidos de rubricas similares ou quase similares.
Para tal, deve ler amiúde as rubricas do Repertório, percorrendo-o sem qualquer
outra intenção que não seja conhecê-lo. Este manuseio atento, permitir-lhe-á em
inúmeras situações, realizar uma cuidada repertorização, com sintomas bem
definidos e modalizados, preservando a linguagem empregue pelo paciente,
limitando a utilização de sinónimos repertoriais que se susceptibilizem de
alterar o sentido ao relato que o paciente fez durante a anamnese.
Devemos sempre procurar
certificar-nos que a expressão utilizada pelo doente, tem integral
correspondência com os termos repertoriais. As rubricas demasiadamente
genéricas, com um número muito elevado de medicamentos
ou aquelas que apresentam muito poucos,
devem ser evitadas dado poderem, respectivamente, exacerbar ou restringir a
amplitude da pesquisa.
Atente-se que nas
doenças agudas, havemos de valorizar primordialmente os sintomas mais recentes,
enquanto que nas crónicas são valorizados os mais antigos e repetitivos, sem
olvidar, obviamente, o critério da peculiaridade dos sintomas.
Apontamos de
seguida, sumariamente, os métodos de repertorização mais utilizados:
- Repertorização
Mecânica ou por Extenso;
- Repertorização
com Sintoma Director;
- Repertorização
fundamentada na Síndrome Mínima de Valor Máximo.
Repertorização Mecânica ou por
Extenso
Neste método, identificam-se todos os
sintomas do paciente – tabulação completa da totalidade sintomática como
preconizava Boeninghausen –, sem que se recorra a qualquer valoração ou
hierarquização.
Repertorizam-se os sintomas e no final
procedem para o diferencial na Matéria Médica os dez ou doze primeiros
medicamentos que resultaram da actividade repertorial – estes podem ter sido
obtidos por cobertura e/ou pontuação.
De qualquer modo, para efeitos de
diagnóstico diferencial, não devem ser descurados os sintomas característicos,
peculiares, raros e raríssimos.
Este, é considerado por muitos o método de
repertorização mais falível, por beneficiar os medicamentos policrestos.
Repertorização com “Sintoma Director”
Este método compreende duas fases:
A primeira, implica que se escolha um
sintoma bastante característico e marcante ou chamativo do caso clínico. Como
já foi mencionado, a rubrica referente ao sintoma não deve ultrapassar os
oitenta nem possuir poucos medicamentos.
A repertorização cingir-se-á aos
medicamentos apresentados pelo Sintoma Director. Destes medicamentos
escolhem-se os de maior pontuação.
Numa
segunda fase, procede-se à repertorização de outros sintomas marcantes que dependerão
directamente dos resultados obtidos da análise do S.D. A escolha destes
sintomas não depende de qualquer pressuposto hierárquico. Neste momento da
actividade repertorial, o critério de selecção do medicamento deixará de ser
exclusivamente a pontuação passando a ser também a cobertura, já que se
incluíram vários novos sintomas.
Na fase final da repertorização, serão
levados ao diferencial da Matéria Médica os dez ou doze medicamentos que tenham
tido maior pontuação.
Repertorização Fundamentada na Síndrome
Mínima de Valor Máximo
É denominado como método artístico.
Escolhem-se de 3 a 5 sintomas, devidamente
hierarquizados, caracterizadores da individualidade do paciente, em rubricas
com um número médio de medicamentos – 50 a 80.
Neste tipo de repertorização não se atende
à pontuação mas sim à cobertura efectuada pelos medicamentos. O medicamento
seleccionado, é aquele que por cobertura, engloba a totalidade ou a maior
quantidade dos sintomas seleccionados.
A parte consideravelmente mais difícil deste
método, é a fixação da S.M.V.M. – selecção dos sintomas mais
individualizantes e representativos do caso.
Pode-se efectuar uma variação sobre este
método, que compreende a utilização dos medicamentos resultantes da
repertorização como sintomas directores aos quais vão ser aditados outros
sintomas apresentados pelo paciente para ulterior análise repertorial. Trata-se
nada mais do que a combinação do método de Repertorização pela S.M.V.M com o
método de Repertorização com “Sintoma Director”.
EXPERIMENTAÇÃO
As Matérias Médicas têm por principal fonte
a experimentação.
Os efeitos mais característicos dos
medicamentos, para serem correctamente obtidos, foram desde Hahnemann
administrados experimentalmente em indivíduos sãos e em doses moderadas,
para além das experimentações próprias dos homeopatas que com liberdade de
espírito e apurada sensibilidade as efectuaram no seu corpo.
Pode assim dizer-se que as Matérias Médicas
nascem dos testes de medicamentos realizados em organismos sadios. Em pessoas
doentes ou fragilizadas, as alterações de saúde inerentes a cada medicamento,
misturar-se-iam com os sintomas da doença, originando confusão, falseando os
resultados e os verdadeiros efeitos patogénicos.
Hahnemann ressaltava que a investigação da
totalidade – ou quase – dos poderes medicinais das substâncias, passava
pela ingestão em jejum de 4 a 6 glóbulos da trigésima potência pelo
experimentador, humedecidos com um pouco de água, mantendo-se este regime
durante vários dias.
A utlilização da 30ª CH na experimentação,
é uma escolha criteriosa, já que os sintomas se estruturam numa realidade
energética, não molecular.
Para obter a patogenesia do medicamento
pode utilizar-se a dose glóbulos – 1 gr. de glóbulos constituídos por uma
parte de lactose e duas de sacarose, impregnados pela substância a experimentar
– ou partir de 2 a 5 grânulos – ou gotas –, aumentando um grânulo – ou
gota – por dia até ao aparecimento dos sintomas, mantendo o experimentador
em observação por um ou dois meses.
Este, submetido a uma rigorosa dieta
e a uma inactividade psíquica propícia à auto-observação,
deve anotar todos os sintomas na ordem do seu aparecimento ,
descrevendo-os na sua linguagem e sem recorrer a justificações, comparações ou
interpretações.
Preferencialmente e quando possível, deve
modalizar os sintomas, sendo advertido que a dose subsequente pode curar
sintomas causados pela dose anterior ou desenvolver um efeito oposto ao desta –
daí a importância da anotação sequencial.
Na experimentação, verificamos que alguns sintomas
são obtidos na totalidade ou em quase todos os indivíduos, outros apenas numa
parte e por fim, aqueles que surgem num ou em raros experimentadores.
Estes últimos experimentadores são os idiossincrásicos ou aqueles que
apresentam sintomas obtidos em raros organismos sadios.
MATÉRIA MÉDICA
A
Matéria Médica é um registo de sintomas, contendo o resultado das
experimentações em organismos sãos, dos envenenamentos voluntários ou
involuntários e da prática clínica, sendo complementar do Repertório na medida
em que é auxiliada por este na escolha final do medicamento.
Nela vamos encontrar as alterações de saúde
e os sintomas produzidos por uma dada substância, sendo essencial o seu
conhecimento para a prática da homeopatia.
A repertorização sugere-nos alguns
medicamentos que vão ser sujeitos a uma análise diferencial – nas Matérias
Médicas –, com o intuito da descoberta do simillimum.
As Matérias Médicas a consultar nesta sede,
não devem ser inferiores a três de modo a que o conteúdo de uma complemente as
lacunas de outra.
Grosso modo, as Matérias Médicas dividem-se
em três tipos:
- Puras.
- Semi-Puras.
- Clínicas.
Nas primeiras, os sintomas de cada
medicamento são relatados na linguagem própria do experimentador.
Nas Semi-Puras, para além destes, estão
descritos elementos relativos à observação clínica do autor.
Por último, nas Clínicas, domina a
observação clínica do autor, sendo utilizadas expressões próprias deste e não
do experimentador.
Clarke, um dos maiores homeopatas
anglófonos, cuja matéria médica se consubstancia como uma autoridade inequívoca
e essencial, referia que o conhecimento preciso da sintomatologia de Sulphur,
Lycopodium, Calcarea, Arsenicum, Thuya, Aconitum, Nux Vomica, Pulsatilla,
Silicea, Hepar, China, Belladona e Bryonia, habilitava o prático a tratar com
sucesso a maioria dos casos que encontrasse.
TRATAMENTO
Hahnemann escreveu que para um tratamento
conveniente, após anotação dos medicamentos por cada sintoma apresentado pelo
paciente, devemos ser capazes de distinguir aquele que cobre a maioria dos
sintomas, especialmente os mais peculiares e característicos.
Seleccionada após comparação na Matéria
Médica, deve ser a substância que mais semelhanças apresenta com a totalidade
do quadro clínico que se nos depara.
Na falta do medicamento perfeito, deve ser
ministrado o imperfeito.
Sendo frequente, que a similitude não seja
total, não se pode esperar que a cura seja total e isenta de perturbações. No
decorrer do uso do simillimum imperfeito, poderão surgir sintomas
acessórios não observados previamente na doença.
De qualquer modo, isto não impede que parte da enfermidade não seja debelada
pelo medicamento. Persistirão somente os sintomas não cobertos pelo medicamento
e aqueles que surgiram acessoriamente assumirão um carácter moderado, sempre
que a dose do medicamento não seja exagerada.
Caso surjam efeitos acessórios importantes
durante a acção de um medicamento imperfeito, não se permitirá que a acção
deste se extinga. Pelo contrário, proceder-se-á a nova repertorização, desta
vez englobando o novo universo sintomático. Este processo é “vicioso” até que
se complete a cura integral do enfermo.
Contrariamente à situação anterior, o simillimum
perfeito, imitando a doença na íntegra, ministrado em dose adequada, removerá
de forma radical a totalidade sintomática.
Se o simillimum for encontrado,
qualquer dose será suficiente para a cura, desde que inexistam barreiras
diatésicas. Se estas existirem terão de ser cuidadosamente investigadas a fim
de serem debeladas, nomeadamente por intermédio de antídotos e nosodos, sem que
se olvide, como exaustivamente temos vindo a referir, as leis da similitude.
Hahnemann preconizava que em determinadas
circunstâncias a utilização de medicamentos complementares é não só benéfica,
como necessária para a obtenção de cura.
Na dificuldade do simillimum
perfeito ser encontrado, Hering enunciou uma regra segundo a qual são
suficientes três sintomas bem indicativos, para que se estabeleça a escolha de
um bom medicamento, como são suficientes três pés para que um banco esteja
equilibrado.
Dito por outras palavras, se três
características principais de um caso são identificadas num dado remédio, há um
tripé sobre o qual a prescrição se pode apoiar com grandes possibilidades de
sucesso.
A teoria de Hering tem um vasto campo de
aplicação nos casos agudos e pressupõe que o homeopata isole os sintomas
característicos em número de três, levando-os ao repertório, que confirmará o
seu valor (grau 1).
Não podemos, na maior parte dos casos,
esperar do medicamente homeopaticamente imperfeito uma cura integral, já que no
decorrer do tratamento podem surgir sintomas acessórios
de alguma monta, que implicam o traçado de um novo quadro da doença
e a prescrição de um novo medicamento.
Aliás, sempre que ocorra mudança na doença,
deve seleccionar-se um outro medicamento para combater os sintomas que restam
ou que surgem após a acção do primeiro.
Como já foi referido, por vezes, a
prescrição do medicamento imperfeito despoleta o surgimento de novos sintomas
ou revela sintomas antigos, levando o homeopata a uma reavaliação do caso e à
prescrição do simillimum perfeito ou do medicamento mais adequado à
situação do enfermo.
Não olvidemos que o estado mental deverá
ser sempre utilizado para a selecção final do medicamento.
Note-se ainda, que os sintomas desaparecem
pela ordem inversa da sua manifestação
e a aplicação do medicamento homeopaticamente correcto produz inevitavelmente
uma imediata melhoria do estado psíquico.
Por último, uma pequena nota relativa ao Genius
epidemicus, que é um recurso prático de prescrição. Efectivamente, numa
epidemia, pode verificar-se que a totalidade ou quase totalidade dos sintomas
são comuns a todos os doentes, o que pode legitimar o uso generalizado de um só
medicamento.
MEDICAMENTOS
Fundamentalmente, as substâncias
medicamentosas utilizadas pela farmácia homeopática, são de origem animal,
vegetal ou mineral.
As
tinturas mãe, são preparações líquidas resultantes da acção dissolvente dum
veículo alcoólico nas substâncias de origem vegetal ou animal.
À parte destas, surgem-nos as diluições
decimais e centesimais.
O remédio mais usual é constituído por
grânulos de lactose que são impregnados com a diluição que lhes dá a
denominação – verbi gratia, 5ª CH (centesimal); 9ª CH; 15ª CH; 30ª CH.
As doses de glóbulos – também lactose impregnada com a diluição
hahnemaniana – têm a particularidade de serem tomadas de uma só vez pelo
doente.
Por razões que entenderemos adiante,
preferimos ministrar o medicamento em gotas.
O mesmo número de gotas que o indicado de grânulos.
Os medicamentos homeopáticos possuem um
padrão energético ou vibratório, cuja influência se repercute na força vital do
organismo promovendo a sua cura.
No estado actual do conhecimento científico
é quase impossível demonstrar de que modo agem as substâncias homeopáticas,
muito em especial as altamente diluídas. A prática demonstra que promovem a
saúde e a cura, mais nada para além disso.
Na perspectiva de Hahnemann, o medicamento
homeopático reproduz os sintomas da doença. Deste modo, gera-se uma doença
artificial semelhante e mais poderosa do que a que reside no organismo. A força
vital vê-se compelida a agir contra uma nova doença despendendo mais energia
para a eliminar. A doença criada artificialmente, embora mais poderosa, possui
um curto prazo de acção, o que permite à força vital sobrepujá-la facilmente
após se ter obtido a cura eficaz da doença original. O organismo permanecerá
sadio já que ambas as doenças foram eliminadas com sucesso.
Verifica-se
assim que o medicamento homeopático produz uma doença de força superior,
paralela à original que pela sua escassa duração no tempo será facilmente
contrariada pela força vital após se ter conseguido a cura da enfermidade
fecunda.
Podemos
reter que os medicamentos homeopáticos apoiam e estimulam os mecanismos de
auto-cura existentes em todo o organismo vivo.
PRESCRIÇÃO
E POSOLOGIA
Encontrado o Simillimum, há que determinar
a:
- Diluição;
- Dose;
- Frequência com que o remédio é
administrado.
Nesta matéria, a prática do homeopata é a
norma que o deve conduzir
e as considerações que se seguem devem tomar-se como meramente indicativas.
Certos homeopatas usam quase que
exclusivamente as baixas diluições, outros as altas.
Neste campo, a experiência individual é que deve ditar as regras, embora
existam certas regras básicas que não se podem esquecer:
Quanto mais alta a diluição e maior a
similitude do medicamento seleccionado, mais prolongada no tempo será a acção
medicamentosa.
Os pacientes idiossincrásicos são
particularmente sensíveis a qualquer tipo de diluição homeopática, logo, as
reacções adversas ou a acção medicamentosa susceptibilizam-se de perdurarem no
tempo, inclusive nas baixas diluições e em circunstâncias de similitude imperfeita.
O medicamento não deve ser repetido
enquanto o paciente ainda estiver a beneficiar dos efeitos da dose anterior.
Só quando a acção do remédio estiver esgotada, deve o mesmo ser repetido.
As tomas sucessivas do medicamento só se
devem processar mediante uma alteração – mesmo que moderada – da
potência ou da dose.
A utilização simultânea de medicamentos não
se traduz numa cura mais célere e pode atrapalhar a escolha da diluição, dose
ou a frequência de administração.
A frequência com que o medicamento é
administrado, em regra é directamente proporcional ao número da diluição.
Na presença do simillimum, parece
que todas as diluições são curativas, no entanto, quanto mais alta a diluição
maior a probabilidade de uma cura permanente.
Atente-se que as altas diluições não devem
ser ministradas a doentes incuráveis ou hipersensíveis. Os primeiros acabam por
depauperar, enquanto os segundos adquirem os sinais patogenésicos do
medicamento.
As mulheres e as crianças reagem geralmente
bem aos medicamentos, pelo que se deve começar com baixas diluições. O mesmo se
diga no que toca aos indivíduos hipersensíveis, propensos a fazer a patogenesia
do medicamento ministrado.
Quando a similitude é grande, podem
subir-se as diluições, mesmo nos quadros agudos, o que obriga ao espaçamento
das doses – ex: 15 ou 30 CH – .
Tratando-se de uma doença aguda ou crónica com similitude muito imperfeita
devem utilizar-se baixas diluições – ex.: 5 CH. De qualquer modo, o
conceito de alta e baixa diluição depende, como já foi referido, da experiência
clínica do homeopata.
Nas doenças agudas as diluições baixas são
tomadas várias vezes por dia.
Nos casos crónicos, podem ministrar-se
altas diluições – ex.: 30CH; 200 CH –, aguardando-se que o efeito do
remédio termine
para eventual repetição
ou então, uma diluição média de modo contínuo, aumentando-se progressivamente a
potência ou a dose.
Na perspectiva da Escola Pluralista, em
casos agudos – domínio orgânico ou lesional –, recorre-se a baixas
diluições (5 CH); nos quadros subagudos – domínio funcional – a
diluições médias (5 a 9 CH); e nos casos crónicos – muito especialmente na
esfera mental – empregam-se as altas diluições (superiores a 9 CH).
O iniciado na arte de curar homeopática,
deve começar por ministrar doses baixas, ou médias, aumentando-as gradualmente
em função do acumular da experiência clínica.
Aconselhamos
o iniciado na prática homeopática, a começar com baixas diluições,
aumentando-as progressivamente.
Assim, encontrado o simillimum ou o
medicamento mais apropriado, o tratamento pode iniciar-se com uma dose de 6 CH
– a menos propensa a agravamentos, segundo certos autores –, aumentada
progressivamente logo que o seu efeito termine, para 12 CH, 15 CH e 30 CH.
Como já foi discutido no capítulo referente
aos medicamentos, estes podem apresentar-se sob a forma de gotas, grânulos ou
glóbulos.
Os grânulos são ministrados
sublingualmente, em regra, três, longe das refeições.
Segundo o grau de dinamização-diluição, o
pluralismo preconiza em regra:
- Se em 5 CH, duas, três ou mais vezes por
dia;
- Se em 7 CH, três grânulos uma vez por
dia;
- Se em 30 CH, três grânulos em dois ou
três dias alternados.
A dose de glóbulos – existente no
mercado com tal denominação – pode ser substituída por 18 grânulos tomados
de uma só vez:
- Se em 15 CH, uma vez por semana.
- Se em 30 CH, uma vez por mês.
As gotas são vertidas sublingualmente, ou
dissolvidas em água pura – 1 gota por colher de água.
EFEITOS
DOS MEDICAMENTOS
O fenómeno do agravamento é facilmente
compreensível se recorrermos aos princípios que enformam a prática homeopática.
É praticamente impossível que medicamento e
doença se sobreponham, como sucede com dois triângulos com lados e ângulos
iguais
e mesmo numa escolha criteriosa, podem surgir em certos indivíduos novos
sintomas.
Na doença aguda, um suave agravamento
homeopático, observado na primeira ou primeiras horas é sinal que a doença
cederá.
Mas, a agravação homeopática não se constitui como fenómeno obrigatório, a
menos que a doença seja grave.
No entanto, se o medicamento for mal
seleccionado o doente poderá ter um alívio transitório dos sintomas,
seguindo-se um intenso agravamento.
Logicamente, quanto menor a dose mais
moderado o agravamento.
Numa enfermidade de carácter lesional leve,
o agravamento homeopático é de curta duração e bastante forte, limitando-se no
caso de doenças agudas de instalação recente, à primeira ou primeiras horas.
Na lesional de certa gravidade, o
agravamento aumenta na sua duração.
Nas doenças funcionais e de carácter incurável,
Hahnemann considera que não se deverá verificar qualquer tipo de agravamento.
As doenças crónicas não são afectadas em
geral por agravações drásticas, mas podem ocorrer abundantes eliminações.
Léon Vannier e Jean Poirier, consideram que
o agravamento medicamentoso não se pode produzir, se não utilizarmos tinturas
mãe, tivermos o cuidado de intercalar um dia de repouso de vez em quando – pode
ser um dia por semana – no decorrer da administração de diluições médias,
não repetir uma alta diluição antes que a sua acção esteja esgotada e por
último, se garantirmos a drenagem perfeita do organismo.
Neste particular, damos agora em síntese, o
procedimento homeopático tendo em vista as situações que ocorrem ou podem
ocorrer na prática clínica, fundamentadas nas leis e teorias expendidas por
Hahnemann, Boenninghausen, Hering, Kent e Miller.
Aproveitamos para relembrar o método que
conduzirá fatalmente à análise do caso concreto – as anotações que se
seguem, não substituem o que se escreveu em sede de Interrogatório e Exame, mas
completam-no.
PRIMEIRO CONTACTO COM O DOENTE
Nome, endereço, telefone.
Idade.
Trabalho.
Casado, viúvo, solteiro ou divorciado.
Cor dos cabelos e dos olhos.
Cor do rosto, tez.
Mencionar todos os traços particulares do
paciente quanto à sua aparência, forma, aspecto, tamanho, etc.
Altura e peso.
Causa da morte dos familiares mais próximos
ou afastados, tanto do lado paterno quanto materno, ou ainda as doenças
crónicas que apresentaram durante as suas vidas: tuberculose, asma, cancro,
tumores, erupções, doenças de pele, venéreas, ou quaisquer outras crónicas.
Questionar igualmente toda tara particular
de um lado ou de outro.
Pedir ao doente que conte a história da
doença que o atormenta.
Este deve fornecer uma narração detalhada
dos seus padecimentos. O homeopata anota tudo, iniciando um novo parágrafo a
cada sintoma relatado, evitando interrompê-lo.
O paciente começa em regra por narrar os
sintomas de que está mais ansioso por se libertar.
Quando termina, o médico passa então para
cada sintoma em particular obtendo informações mais precisas, sem que formule
questões de forma sugestiva.
Caso hajam lacunas sobre várias partes e
funções do organismo, bem como das respeitantes ao estado mental, o homeopata
questiona o doente no que a tal respeita.
Se a doença crónica obriga a uma
investigação profunda da sintomatologia na sua forma originária e correlativa
evolução, já a aguda, cujos sintomas estão bem presentes na mente do enfermo,
implica menor esforço do prático, o que não quer dizer, que não seja elaborado
um quadro completo da doença e dos sinais característicos do paciente.
Entre outros, deve especificar:
Quando começou;
Há quanto tempo dura;
Quais as modificações e evolução por que
passou;
Que remédios tomou e em que quantidade;
Qual a causa da doença (na perspectiva do
paciente);
Se engordou ou emagreceu nos últimos meses;
Quantas vezes foi vacinado, contra quê e
quais foram os efeitos dessas vacinas;
Quais os sintomas que mais o mortificam e de que se quer
livrar, bem como os mais marcantes, característicos e estranhos.
A
PRIMEIRA PRESCRIÇÃO
Na primeira prescrição, o homeopata deve
tomar em conta a totalidade dos sintomas, afastando deliberadamente a prática
de receitar tendo por base um único sintoma ou sinal, mesmo tratando-se de um
“Key Note”.
Ocorre, que numa primeira abordagem
do paciente, a sua estrutura psico-física não é ainda perfeitamente
perceptível, pelo que a regra do tripé de Hering, poderá ter aqui um dos seus
campos preferenciais de eleição: são necessários como já se disse, três
sintomas bem característicos, individualizantes daquele, para que a prescrição
possa produzir algum efeito útil.
Em bom rigor, prescrever sobre a totalidade
dos sintomas, não quer dizer que todos sejam tomados em consideração, havendo
que proceder à sua valorização e hierarquização. A escolha de quatro ou cinco
característicos, constituindo o Síndrome Mínimo de Valor Máximo, conduzirá à
escolha do simillimum perfeito ou possível.
Não devemos nunca olvidar, que o que
caracteriza um indivíduo, são as suas características mentais, seus desejos e
aversões e o comportamento que apresenta face aos elementos naturais, com toda
a gama disponível de agravações e melhorias.
Face a um caso crónico, que se
arrasta há longos anos, o simillimum só deve ser receitado quando o
homeopata disponha de elementos suficientes para erradicar a doença. Isto
poderá acontecer na segunda consulta, talvez na terceira. Até lá, se o paciente
estiver intoxicado por medicamentos alopáticos, receitar-se-lhe-á Nux Vomica,
ou se tiver sido alvo de inúmeras vacinações, Thuya. Poderá considerar-se na
ausência destas duas situações a possibilidade de ser ministrado Saccharum Lactis, sem qualquer
dinamização.
Entendendo-se conveniente, no fim da
primeira consulta, entregar-se-á ao paciente um questionário – Kent elaborou
um questionário exaustivo, que entregava aos seus pacientes.
DEPOIS
DA PRIMEIRA PRESCRIÇÃO
Poderá ser este o momento em que o simillimum
vai ser receitado, caso não o tenha sido na primeira consulta.
Deve assinalar-se a data da toma do
primeiro remédio.
- O paciente deve anotar todas as
alterações do seu estado e dos sintomas, logo depois de ter tomado o remédio.
Sempre que os sintomas se modifiquem, deve
ser tal facto rigorosamente anotado.
Anotam-se os sintomas que desapareceram
completamente ou de que se sentem melhoras depois de tomado o primeiro remédio.
Assinalam-se os novos sintomas que podem
eventualmente aparecer.
Especificar com precisão os novos sintomas
e assinalar os antigos que reaparecem durante o tratamento.
Depois de ministrado o simillimum o
paciente deve ser consultado nos 10 a 12 dias seguintes, para avaliação do seu
estado.
A partir daqui são múltiplas as situações
que podem ocorrer. Analisemos sinteticamente cada uma delas.
APÓS
O SIMILLIMUM
- O paciente AGRAVA:
Precisamos de distinguir o que na realidade
agrava: agravação do seu estado geral; agravação dos sintomas da doença;
agravação dos sintomas da doença e do seu estado geral.
No entanto, não devemos nunca confundir o
fenómeno de agravação homeopática com reacções normais de eliminação,
nomeadamente como diarreia, vómitos e expectorações.
AGRAVAÇÃO
DO ESTADO GERAL DO PACIENTE – Esta agravação corresponde a uma diminuição evidente
da alegria, boa disposição, actividade, em suma, um declínio evidente do estado
de saúde.
É
necessário nunca olvidar que o homeopata busca acima de tudo uma sensação de bem-estar
do doente.
Provavelmente o simillimum foi
prescrito em baixas dinamizações com tomas muito repetidas.
AGRAVAÇÃO
DOS SINTOMAS DA DOENÇA – Agravação dos sintomas causa directa da consulta.
Agravação aguda e curta, seguida de uma
melhoria rápida
– Estamos perante um bom prognóstico. O doente pode curar-se ou ter uma recaída
ao fim de algumas semanas. Neste último caso, repetir o remédio. Atente-se que
uma boa agravação não deve ultrapassar três dias.
Agravação longa seguida de lenta melhoria – Uma agravação de
várias semanas, a que se seguem pequenos sinais de melhoria, indicam-nos um
paciente esgotado, de baixa vitalidade. Devemos evitar a repetição continuada
do remédio, sob pena do doente correr riscos desnecessários.
Agravação longa seguida de um declínio do
estado geral
– Estamos perante um doente incurável. A opção é desistir do simillimum
– que apenas o depauperará – e ministrar pequenos remédios de acção curta e
pouco profunda, de carácter paliativo.
Agravação muito marcada seguida de curta
melhoria
– O remédio não é o simillimum, tendo apenas acção paliativa.
Agravação a que se segue o retorno de
sintomas antigos
– Estamos perante um prognóstico excelente. No máximo, ao fim de um mês os
sintomas antigos desaparecem. Se tal não ocorrer, teremos de pensar numa
segunda prescrição.
O paciente MELHORA:
Melhora o seu estado geral e local; melhora
o seu estado geral e agravam os sintomas locais; melhora o estado geral
mantendo-se o desequilíbrio dos sintomas locais ou melhora o estado geral com
manifestações de eliminação.
MELHORA
O ESTADO GERAL E LOCAL - O doente tem uma cura rápida.
Quer o remédio, quer a dinamização foram
bem escolhidos, são similares ao grau dinâmico da doença. Também pode acontecer
que a doença esteja num estádio inicial.
MELHORAM
OS SINTOMAS DA DOENÇA
– Melhoria dos sintomas causa directa da consulta.
Melhoria rápida seguida por agravação – Partindo do
princípio que estamos perante o simillimum, então o paciente é
incurável. Se não for o simillimum, o remédio limitou-se a exercer uma
acção meramente paliativa.
Melhoria na direcção errada – O sintoma
inicial desaparece, mas surge um novo bem mais grave. Como exemplo, podemos
citar o desaparecimento de uma úlcera da perna, surgindo em seu lugar uma
hemoptise. Estas situações aparecem em regra quando o homeopata se limita a
prescrever com base nos sintomas locais olvidando a totalidade sintomática. Há
que reavaliar o caso, considerando o actual quadro sintomático.
Melhoria com reacção tardia – A “reacção
tardia” a que se referem alguns autores, surge entre o 15º e o 26º dia após ser
ministrada a dose, tendo uma duração aproximada de 15 dias.
O homeopata deve evitar renovar a dose numa
nova potência, ministrando antes, uma de placebo, já que qualquer melhoria sem
similitude só muito excepcionalmente ultrapassará dez dias. Daí, que uma
melhoria de 15 dias é sinónimo de prognóstico favorável, acabando tal reacção
por desaparecer decorridos que estejam os ditos 15 dias de agravamento, com o
consequente restabelecimento integral da saúde do enfermo.
APARECIMENTO
DE NOVOS SINTOMAS
– Quando surge um novo sintoma, precisamos de discernir se se trata de um:
Sintoma patogenésico - Consultando-se neste caso para identificação
um Repertório (v.g. Kent, Ariovaldo Ribeiro Filho), ou uma matéria médica
exaustiva (v.g. Clarke, Allen). Tratando-se de tal, acabará por desaparecer em
poucas semanas, podendo prescrever-se S.L., evitando-se qualquer outra
intervenção.
Também não deixa de ser provável que
os sintomas venham a ser demonstrados como elencadores do quadro patogenésico
do medicamento por ulteriores experimentações.
Sintoma do quadro evolutivo da doença – Aqui, ficaremos
certos que o remédio prescrito não é o simillimum, face ao
desenvolvimento do quadro patológico, urgindo uma reavaliação do caso.
Sintoma mais grave do que o inicial - Já vimos esta
situação (Melhoria na direcção errada).
Sintoma menos grave que o inicial – Se segue a
direcção da cura homeopática, o prognóstico é bom. Um eczema facial que
desaparece e surge numa perna (do alto para o baixo); Uma úlcera que
desaparece, surgindo uma erupção numa perna (de dentro para fora); Desaparece
uma úlcera surgida em 1998, depois uma arritmia com inicio em 1997 e por fim
dores erráticas nos membros que se arrastavam desde 1992 (os sintomas
desaparecem na ordem inversa do seu aparecimento).
Sintoma antigo que retorna – Também já
analisado supra (Agravação a que se segue o retorno de sintomas antigos).
A melhora dura um tempo normal, mas surge
um novo conjunto de sintomas – Esta situação conduz a uma nova
prescrição, que por sua vez conduz ao aparecimento de novos sintomas e assim
sucessivamente, enquanto o doente enfraquece progressivamente. Em princípio,
tratar-se-á de doente incurável.
O paciente NEM AGRAVA NEM MELHORA – Neste particular é necessário aprofundar
cautelosamente as inúmeras possibilidades atinentes à ausência de êxito:
Pode acontecer que tenha sido esquecida
em sede de repertorização a causa etiológica dos padecimentos, cuja
importância em sede de casos crónicos é fundamental.
Que a narração dos sintomas seja inexacta, obrigando a uma
reavaliação do caso.
A existência de barreiras medicamentosas ou
infecciosas anteriores que impedem a acção do remédio, tais como,
vacinação, blenorragia.
Taras hereditárias, tais como,
blenorragia, sífilis, tuberculose, cancro, o que nos levará à aplicação de
nosodos.
Abuso de alimentos ou produtos de elevada
toxicidade,
como chá, café, bebidas alcoólicas, tabaco, drogas.
Abuso de medicamentos alopáticos. A intoxicação é
por vezes tão grande que se torna imperativo receitar o antibiótico,
ansiolítico, antidepressivo, corticóide, anestésico, etc. homeopaticamente
diluído e dinamizado, na 15ª ou 30ª centesimal (CH).
Má preparação do remédio. Como em tudo, nem
todos os laboratórios são fiáveis.
Remédio mal tomado. Os remédios devem
ser tomados longe das refeições, directamente debaixo da língua, sem contacto
com os dedos ou diluídos em água pura.
Dinamização inapropriada. É fundamental
encontrar a dinamização a que determinado paciente responde: uns são sensíveis
a uma 9ª CH, enquanto outros necessitam de uma 200 CH ou mais.
Ausência de reacção. Pode ocorrer uma
ausência de reacção por parte do doente. Quer no Repertório de Kent, quer no de
Ariovaldo, encontramos uma rubrica consagrada a este género de carência.
De realçar, que nalguns pacientes a
reacção é de todo oposta: objectivam os sintomas do medicamento ministrado,
ou seja, reproduzem a sua patogenesia.
Por outro lado temos de estar
atentos ao facto de que alguns remédios agem mais rapidamente que outros. Em
casos crónicos, a sua acção pode manifestar-se apenas 30 dias após a toma,
enquanto que nos agudos, teremos de ter uma resposta imediata ou nas primeiras
horas.
A
REAVALIAÇÃO
Se
o estado geral do paciente for excelente, o homeopata só muito excepcionalmente
deverá modificar a medicação.
Caso o tenha de fazer, como acima se
expressou, deverá tomar em linha de consideração uma nova repertorização que
inclua, talvez, como guia, o último sintoma que surgiu e pesquisar nos
medicamentos disponíveis um complementar ou que siga bem o primeiro, o que
impõe a consulta de uma tabela que forneça a relação entre os remédios – v.g.
R. Gibson Miller, Clarke.
RELAÇÕES CLÍNICAS DOS MEDICAMENTOS
Na
matéria médica existem muitos medicamentos incompatíveis, ou seja, que
ministrados antes ou após um do outro, destroem os seus efeitos, por via de
acção contrária. A validade desta regra depende do facto do primeiro remédio
administrado ter tido alguma influência no caso.
Os remédios são complementares quando a sua acção é
idêntica relativamente à sintomatologia do quadro clínico, quando agem no mesmo
sentido, terminando o trabalho começado por um outro remédio.
Os que seguem bem outro, suprem as
deficiências deste primeiro, podendo mesmo antidotar alguns dos seus efeitos
perversos.
Os antídotos são essenciais em homeopatia e
destroem os maus efeitos do remédio ministrado, na maior parte das vezes por
prescrição incorrecta. Antidotam os efeitos químicos no decurso de
“envenenamentos” ou os efeitos indesejáveis ocasionados pelo emprego da droga.
Há ainda medicamentos, que exigem um
cuidado especial na sua prescrição.
José
Maria Alves
A terapêutica ao tempo de Hahnemann orientava-se pela
doutrina dos humores – as doenças eram provocadas pelos maus humores –,
que eram purificados através de sangrias, vomitivos, purgas e clisteres.
O Organon da Arte de Curar, como livro de base da
homeopatia deve ser cuidadosamente estudado. Aconselha-se ao estudante de
homeopatia como primeira abordagem: A Arte de Curar pela Homeopatia O
Organon de Samuel Hahnemann / Dr. E.C. Hamly, M.B., Ch. B., M.R.C.G.P. –
1982, 1ª edição da Livraria Roca Ltda., obra que utilizamos e citamos ao longo
deste livro, no que toca ao dito Organon.
Medicina pela qual se efectuam tratamentos com
remédios que produzem efeitos diferentes dos da doença a tratar.
V.g.
Arsenicum Album, Belladona e Mercurius.
Trata-se de uma diluição homeopática que retira a
toxicidade ao medicamento, estimulando concomitantemente as capacidades
reacionais de auto-cura do organismo.
Dose forte, mas não letal. Verifica-se aqui um efeito
de dupla face do medicamento. Como já anotámos, o café que em doses
ponderais provoca a insónia, vai curá-la quando altamente diluído.
Actualmente, pelo menos em território Europeu,
tende-se à utilização da homeopatia mediante os princípios da Medicina
Ortodoxa. É inelutável, que o contributo da prática médica ortodoxa é de um
valor inestimável para a homeopatia, embora não seja fundamental, mas o
transporte ou impregnação do corpo teórico da Homeopatia pelo da Medicina
Ortodoxa só faz com que se passe a ver a doença em detrimento do doente. O
complexismo é utilizado maioritariamente de acordo com as patologias tal como
são conhecidas na Medicina Ortodoxa. Tal facto, embora não possa permitir que a
escolha do medicamento, por muito criteriosa que seja, determine a perfeita
cura do paciente – só quando se escolhe o medicamento visando o doente e não
a doença é que se pode ter maior certeza de promover a cura e o
restabelecimento do enfermo –, permite uma rápida actuação no quadro
sintomático imediato, facultando alívios que propiciam no tempo, a ulterior
pesquisa do simillimum. Mas é de não esquecer, que embora a utilização dos
complexos homeopáticos possa ser aliciante pelo pragmatismo e rapidez de
prescrição, o que se cura, ou tende a curar, é o doente e não a doença.
Que englobam as sensações, sonhos, ilusões e
delírios.
Envolvem os transtornos causados por acontecimentos,
traumáticos ou não.
Medo, depressão, ansiedade, astenia, agitação,
inquietude, memória, cognição, capacidade de valoração dos factos,
inteligência, entre outros.
Sede, apetite, transpiração, sono, fezes, urina, etc.
Por exemplo, quisto no ovário esquerdo.
De referir as Korsakovianas, que podem atingir o
valor de 100.000 – 100.000 K –, que são prescritas fundamentalmente para
sintomas mentais.
Este processo intitula-se de dinamização.
Veja-se Revista Port. Farm. Vol. XLIV, nº3 – 1994.
Para Bastide e Boudard, tratar-se-ão de sinais
electromagnéticos de reduzida intensidade – sinais não moleculares –
veiculadores de informações sob a forma de imagens de patologias –
patogenesia do medicamento –, espelhos da sintomatologia apresentada pelo
paciente, inteligíveis para o organismo deste, que apresenta a peculiar
característica de negativizar o seu próprio quadro sintomático.
Hahnemann considera como
força vital a vida que anima um ser vivo. Toda a globalidade psicossomática da
entidade viva estruturada no interior de um invólucro, que sem os compostos que
o “animem”, nada mais é que um cadáver.
Organon § 225. Para estes casos, preconiza como
tratamento, o homeopático antipsórico – ver Diáteses –, associado a um
modo de vida cuidadosamente regulado.
Organon § 225. O doente aparentemente curado por
intermédio do simillimum, deve ser submetido a um tratamento antipsórico
radical a fim de que jamais caia em tal estado de doença mental.
Organon § 253. Um aumento do conforto, da serenidade
e de certo modo, da alegria com retorno ao estado natural de equilíbrio, é um
índice seguro de melhoria.
“Emanações que outrora eram consideradas,
erradamente, como causadoras de doenças e que provinham de detritos orgânicos
em decomposição ou de doenças infecto-contagiosas e cujos efeitos se podem
assemelhar, em parte, à acção microbiana
no organismo”. Embora esta seja a definição que comumente se pode encontrar num
dicionário, a realidade doutrinária homeopática subjacente ao conceito é muito
mais vasta do que aquela que a mera descrição linguística pode denunciar.
Efectivamente, Hahneman empregava o termo miasma no mesmo sentido com que ele é
definido actualmente, mas a sua conceptualização do fenómeno miasmático era
bastante mais abrangente do que a priori se pode pensar. Das palavras do
Organon pode depreender-se, que para Hahneman, miasmas são estigmas de
infecções contraídas e suprimidas num passado remoto pelos nossos ancestrais.
Estes estigmas são perpetuados pela linha genética, condicionando o modo
reacional de um organismo, que pode apresentar uma predisposição particular
para contrair certas doenças e manifestar determinada realidade sintomática.
Este eminente fundador homeopata, desconhecendo os actuais conceitos de genética,
microbiologia, virologia e bacteriologia, desenvolveu um corpo doutrinário
capaz de explicar a perpetuação na linhagem genética de marcas resultantes de
infecções bacteriológicas, e explica inclusive, as micromutações cromossómicas
que sofremos ao longo das décadas ou séculos e que reflectem as adaptações aos
meios patológicos. Na realidade é mais fácil perceber as inequívocas
macromutações – adaptações – aparentemente estáveis, que a nossa espécie
sofreu ao longo de milénios, do que as transformações que os seres experimentam
num espaço de tempo circunscrito a algumas décadas ou séculos.
Diátese é um conceito que surgiu com a Escola
Pluralista, correspondendo à doença hahnemaniana crónica.
Organon § 202/205. A supressão de um eczema na
criança pode conduzir a ulteriores crises asmáticas. Hahnemann defendia que não
se devia aplicar nas enfermidades locais, crónicas ou agudas, externamente,
qualquer remédio, nem mesmo o homeopático correcto (Organon § 194; § 195). Este
conceito Hahnemaniano, embora teoricamente correcto, deve ser interpretado à
medida da experiência clínica do homeopata, dos efeitos das diversas
substâncias ou remédios no organismo, da patologia em causa ou da
idiossincrasia do enfermo. A aplicação tópica de uma pomada de Arnica para um
traumatismo físico recente, dificilmente terá complicações no organismo do
paciente.
Cada uma das categorias engloba os pacientes cuja
reacção patológica é análoga, independentemente do agente agressor.
A Psora derivará de uma intoxicação crónica – endógena
ou exógena –.
A Sicose, das consequências negativas das vacinações
– v.g. a antivariólica –, blenorragia mal tratada e de todos os
processos mórbidos repetitivos e rebeldes.
O Luetismo é uma modalidade reacional do organismo em
face de agentes agressores diversos, caracterizada por manifestações
semelhantes à da infecção provocada pelo Treponema palidum. Nos tempos
antigos a sífilis era considerada a causa da Luese.
Nebel exerceu Medicina Homeopática na Suíça, tendo
optado pela Escola Pluralista.
Em 1946 publica “Os tuberculínicos e seu tratamento
homeopático”, e em 1952 “Os cancerínicos”.
Conjunto de manifestações físicas e psíquicas, bem
como orientações mórbidas gerais imprimidas ao organismo por uma tuberculose
que remonta a uma ou mais gerações.
Forma nativa que susceptibiliza o organismo na
direcção do risco oncológico.
Ao lado de Sulfur, os medicamentos principais da
Psora são: Arsenicum Album, Lycopodium e Nux Vomica. A Calcarea Carbonica é o
medicamento constitucional e o nosodo é o Psorinum. (Constituição é um conceito
essencialmente pluralista).
Ao lado da Thuya – a Thuya é a Sicose; a Sicose é a Thuya – ,
Dulcamara e Natrum Sulfuricum. O constitucional é a Calcarea Carbonica e o
nosodo é o Medorrhinum.
Para a Luese temos como principais ao lado de Mercurius Solubilis:
Argentum Nitricum, Lachesis e Phytolacca. O constitucional é Calcarea Fluorica
e o nosodo é o Luesinum.
No Tuberculinismo, encontramos Phosphorus, Natrum Muriaticum,
Pulsatilla e Sépia. O constitucional é a Calcarea Phosphorica e o nosodo é o
Tuberculinum.
A série cancerínica é a mais recente e não está bem definida. O nosodo
é o Carcinosinum. Os três grandes cancerínicos são: Thuya, Conium e Hydrastis.
Os que constituem o modo reacional daquele paciente.
Mas apenas um de cada vez. Recordamos que as Escolas
Pluralistas preconizam a utilização simultânea de vários medicamentos e que as
Complexistas misturam várias substâncias na mesma solução excipiente. Embora a
prática clínica possa indicar a existência de resultados favoráveis mediante a
particular prescrição terapêutica destas duas Escolas, aconselhamos a que os
princípios basilares da homeopatia sejam inteiramente respeitados, até que a
experiência clínica pessoal alicerçada os conteste.
As diáteses puras ou quase puras só surgem em
pediatria.
Um mínimo de três, é o número requerido para que haja
identificação diatésica.
Os nosodos são produtos patológicos tecidulares ou
extraídos de secrecções mórbidas de origem vegetal, animal ou humana, diluídos
e dinamizados segundo as técnicas da farmácia homeopática, administrados a partir
da 6ª diluição decimal.
Os
métodos bioterápicos foram desenvolvidos em França, paralelamente à homeopatia.
O
Psorinum é a diluição da substância sero-purulenta contida na vesícula da
sarna.
O
Medorrhinum é a diluição da secreção purulenta blenorrágica.
O
Luesinum é o lisado das serosidades treponémicas de cancros primitivos.
O
Tuberculinum é a tuberculina bruta obtida da mycobacterium tuberculosis.
O
Carcinosinum é preparado a partir de nódulos cancerosos, particularmente do
seio – adverte-se que não é um remédio do cancro, mas da diátese cancerínica
–.
É
necessário reconhecer que apenas uma pequena parte dos bioterápicos podem ser
considerados medicamentos homeopáticos, porquanto a maioria carece de
experimentação, de patogenesia. Entre os que assim são reconhecidos, estão os
supra mencionados.
O conceito de constituição tem o seu domínio
praticamente limitado à Escola Pluralista.
Que elaborou também a teoria da drenagem.
Para o estudo desta matéria, é fundamental a obra:
“As diáteses homeopáticas”, de Max Tétau, Editora Andrei, 1998.
A matéria médica homeopática é acima de tudo um
registo de sintomas.
Se um doente apresenta todos os sinais mais
característicos do Arsenicum Album – v.g., medo da morte com agitação e
exaustão, agravamento periódico dos sintomas, dores sentidas com sensação de
queimação, agravamento nocturno por volta da meia-noite – e os sintomas da
doença aguda estão delimitados num outro medicamento, deve ser aquele e não
este a ser prescrito.
Hahnemann terá respondido certa vez a um paciente que
o inquiriu sobre a sua doença e prescrição homeopática: “O nome da sua
doença não é problema meu, e o nome do medicamento que lhe dou não é problema
seu”.
Um sinal característico é o que caracteriza,
desculpe-se a redundância, o paciente e que em regra não é comum à doença.
Alguns homeopatas quando constatam num paciente a
existência de um sintoma raríssimo, procedem sem mais à prescrição desse
medicamento. No entanto, tal procedimento é contrário aos princípios da
doutrina homeopática. A função do Keynote deve ser meramente indicativa e
auxiliar do diagnóstico diferencial.
Clarke afirmava que se um paciente lhe dissesse “Há
uma coisa que não sei se lhe devo contar, doutor”, não descansava enquanto este
não lhe contasse de que realmente tratava a tal “coisa” – Receituário
Homeopático, Editorial Martins Fontes, pág. 68 –. Pesquisava assim, os
sintomas mais peculiares e absurdos.
Alguns sintomas são mais importantes que outros e
devem ser valorizados, quer em sede de repertorização, quer de prescrição. A
hierarquização que atribuímos aos sintomas relevantes pode traduzir-se no
esquema seguinte:
Sintomas etiológicos: Transtornos por...; Todos os factores desencadeadores
do quadro sintomático actual.
Sintomas e sinais do quadro clínico/homeopático
individual:
Mentais
Sintomas da imaginação: Sensações, ilusões, delírios e sonhos.
Emocionais
Volitivos
Intelectivos
Gerais:
transpiração, sono, sede, apetite, febre, características das eliminações, etc.
Locais:
cabeça, peito, estômago, etc.
Sintomas extraídos da história clínica: transtornos funcionais – comuns e patognomónicos
– e lesões orgânicas.
Nota:
Os sintomas pertencentes ao grupo II deverão ser sempre bem modalizados. Este
grupo, aonde for aplicável, pressupõe a inspecção, ou exame físico, levado a
cabo pelo homeopata.
A Síndrome Mínima de Valor Máximo é constituída por 3
a 5 sintomas caracterizadores da individualidade do paciente, inscritos em
rubricas com um número médio de medicamentos – entre 50 a 80 –, como
veremos infra.
A soma de todos os sintomas em cada caso individual
de doença deverá ser a única indicação, o guia isolado para nos orientar quanto
à escolha de um determinado remédio (§ 18 do Organon). O simillimum resulta da
comparação entre os sintomas da doença, os sinais do doente e os sintomas dos
medicamentos exibidos nas matérias médicas.
Deve descrever exactamente o que sente e de que
sintomas está mais ansioso de se libertar. Se for acompanhado, as pessoas que o
rodeiam relatam as suas queixas, o seu comportamento e o que percebem nele,
enquanto o homeopata vê, ouve e observa o que há no doente de fora do comum (§
84 do Organon). É necessário que o homeopata não se deixe induzir em erro pelos
relatos das pessoas que possam acompanhar o enfermo (§98 do Organon).
Quando se relacionam os sintomas um abaixo do outro,
é-nos permitido escrever ao seu lado os remédios que os produzem conforme
indicação repertorial. Tanto Clarke como Boeninghausen, prescreviam, em regra,
ao paciente o medicamento que correspondesse ao maior número de sintomas.
O homeopata interroga-o sobre a localização da dor ou
sensação, do horário em que ocorre, como agrava ou melhora, etc.
Deve-se procurar traçar um perfil psicológico do
doente.
A modalidade homeopática determina em que
circunstâncias melhora ou agrava o sintoma ou a totalidade sintomática do
paciente. São as modalizações que tornam o sintoma característico.
Alguns
exemplos:
Alimentares: agravações ou
melhoras por efeito de determinados alimentos ou bebidas.
Atmosféricas e ambientais:
andando ao ar livre, desejo ou aversão dos grandes espaços, lugares fechados,
chuva, neblina, humidade, tempestade, sazonalidade, luz – natural ou
artificial –, ruído, música, odores.
Banho e lavagens: frio,
quente, mar, aversão a lavagens.
Corpos celestes: Sol, Lua,
estações do ano.
Horárias: dia, manhã, tarde,
noite, anoitecer, uma qualquer hora específica.
Lateralidade: direita,
esquerda.
Locomoção e posição: andar,
andar de carro, barco, correr, dançar, deitado, sentado, em pé, de joelhos,
curvado.
Movimento e repouso: no
começo do movimento, durante ou após o mesmo, deitado ou sentado.
Roupas: apertadas ou não,
cobrir-se, descobrir-se, nu.
Temperatura: calor, frio,
mudança.
Esta perspectiva global do paciente compreende
inúmeros aspectos que serão discutidos na parte respeitante ao interrogatório
propriamente dito, embora se destaquem alguns de compreensível importância:
aspecto do paciente, movimentos, gestos com a face, modo de falar, grau de
lucidez mental, odor, etc.
Os dados recolhidos durante esta fase devem-no ser na
linguagem do paciente, já que as patogenesias foram originalmente escritas na
linguagem corrente empregue pelos voluntários das experimentações. Revelar-se-á
infrutífero e contraproducente tentar empregar uma linguagem mais erudita ou
técnica nos relatórios e fichas clínicas dos doentes.
O factor etiológico – ou biopatográfico – é o acontecimento que originou o estado
patológico. Pode ser hereditário – causa diatésica –, ter origem física
– exposição ao frio húmido ou frio seco – ou psicológica – desgosto
de amor, ciúme, medo ou pânico –.
Este deve ser efectuado com base nos sintomas que o
paciente não aprofundou ou que sejam dúbios para o homeopata. Proceder-se-á há
recolha de dados que consolidem e especifiquem a narração do paciente (§87 e
§89 do Organon). O bom interrogatório, também depende da atenção dada a
pormenores, ou factores predisponentes do quadro patológico, que o paciente não
mencionou – por embaraço, indolência, falta de disposição ou esquecimento
– e que o homeopata já conhece como essenciais a um diagnóstico fiável e
correcto, especialmente em sede de doença crónica (§93 e §94 do Organon).
Podem-se preencher estes dados logo à chegada do
paciente ao consultório – atitude mais corrente –, permitindo que este
descontraia e se familiarize com o homeopata e o espaço da consulta.
Nas
altas diluições o espaçamento entre a administração das doses deve ser
aumentado.